23 de jul. de 2014

GASTRONOMIA LOCAL COMO PATRIMÔNIO IMATERIAL PARA O TURISMO CULTURAL.

Imagem: google imagens

A multiatividade do turismo nas suas segmentações se consolida para fortalecer em suas frentes sistêmicas, os interesses de lazer e valores individuais, sendo considerada “uma atividade complexa que envolve o deslocamento de pessoas para fora de seu lugar de residência habitual com o intuito de realizar atividades que satisfaçam seus desejos de lazer.” (SANTANA, 2009, p. 55).

Essa atividade se apropria da cultura de um povo para compor os produtos turísticos, oferta-los nos centros consumidores e estabelecer um diferencial no destino indutor. A “cultura” é uma grande variante que induz a escolha do lugar de descanso pelo turista.

Segundo (LARAIA, 1997), cultura é uma miscelânea de estimas, créditos, tradições, costumes e nuances históricos de cunho material e imaterial que conduz, de forma diligente, o cotidiano social. Ou seja, a cultura é edificada ao longo de procedimentos históricos e concretos de um povo, a partir de suas inter-relações e estilos de conduzir os acontecimentos da linda do tempo.

Dessa forma, percebe-se que a cultura de um povo se consolida pelas feitorias, manifestações e heranças de um conjunto de pessoas que atuam de forma construtiva no uso do patrimônio cultura imaterial, representando em linhas gerais a conjuntura social, politica, econômica e criativa da comunidade.

Segundo (CASTRO, 2008, p. 11), de acordo com o artigo 2º da Convenção para Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial (UNESCO,  2003) entende por patrimônio cultural imaterial como:


[As] práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas – junto com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são associados – que as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural. Este patrimônio cultural imaterial, que se transmite de geração em geração constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função de seu ambiente, de sua interação com a natureza e de sua história, gerando um sentimento de identidade e continuidade e contribuindo assim para promover o respeito à diversidade cultural e à criatividade humana.


Nessas perspectivas se compreende que o alimento tradicional e a gastronomia local, juntos, estão associados a grandes valores culturais que se transmite de pai para filho, com as devidas modificações que o tempo lhes imprime na associação com a natureza, podendo ser matéria prima na fomentação de um produto turístico cultural, relevante em qualquer destino que valorize esse segmento.

A gastronomia derivada de alimentos tradicionais é um patrimônio cultural imaterial na constituição de produtos turístico para eventos como o São João nordestino, já que a confecção dessas comidas é o resultado das formas de expressão, do saber fazer de uma população, tornando esses alimentos em produto histórico e apto para o turismo cultural, “Nesse sentido, o alimento constitui um objeto da história, pois eles não são apenas alimentos, mas constituem-se em um ato social relacionado aos usos, aos costumes, às condutas e às situações de uma determinada cultura.” (ZUIN & ZUIN, 2007, p 115).

(GOULART E SANTOS apud CARVALHO, 2010, p. 9), relatam que o turismo cultural é compreendido como “[...] um fenômeno social, produto da experiência humana, cuja prática aproxima e fortalece as relações sociais e o processo de interação entre os indivíduos e seus grupos sociais, sejam de uma mesma cultura, ou de culturas diferentes.” Fica claro que as relações entre os saberes fazer dos produtores de alimentos tradicionais e da gastronomia local atingem uma miscelânea única como atrativo turístico cultural de uma determinada localidade.

Dessa forma, é inegável a importância cultural dos alimentos tradicionais e da gastronomia local como vetores positivos de diversificação dos produtos de um destino turístico, visando enaltecer a produção local de bens intangíveis. É nesse contexto que a seguinte autora (SHULUTER, 2003, p. 10-11) expõe sua ideia quando diz:


Como destacam os estudiosos, a gastronomia está assumindo cada vez maior importância como mais um produto para o turismo cultural. As motivações principais encontram-se na busca pelo prazer através da alimentação e da viagem, embora deixando de lado o standard para favorecer o genuíno. A busca das raízes culinárias e a forma de entender a cultura de um lugar por meio da sua gastronomia estão adquirindo importância cada vez maior. A cozinha tradicional está sendo reconhecida cada vez mais como componente valioso como patrimônio intangível dos povos. Ainda que o prato esteja a vista, sua forma de preparo e o significado para cada sociedade constituem o aspecto que não se veem, mas que lhe dão caráter diferenciado. Esse interesse do turismo pela gastronomia pode ajudar a resgatar antigas tradições que estão prestes a desaparecer.



A gastronomia como patrimônio local está sendo incorporada aos novos produtos turísticos orientados a determinados nichos de mercado, permitindo aliar os agentes da própria comunidade na elaboração desses produtos, assistindo ao desenvolvimento sustentável dessa atividade.

É no entendimento de turismo cultural que se vislumbra objetivamente a grande intenção desse artigo na busca de induzir os alimentos tradicionais, nesse caso exemplificados pelo milho, e a gastronomia local como propriedade relevante na constituição de base para a diversificação do turismo cultural das localidades que tenham potenciais, visto que, além de sentir a cultura alheia, o turista também pode degustá-la.



TEXTO: ALUÍZZIO VIEIRA





Referencias

Castro, Maria Laura Viveiros de; Fonseca, Maria Cecília Londres. Patrimônio imaterial no Brasil. Brasília: UNESCO, Educarte, 2008.
LARAIA, R. de B. Cultura: um conceito antropológico. 11ª ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1997.
SCHLUTER, Regina G. Gastronomia e Turismo. Tradução Roberto Sperling. São Paulo: Aleph. 2003.
SANTANA, Agustín. Antropologia do Turismo: Analogias, Encontros e Relações. São Paulo: Aleph, 2009.
ZUIN, L., ZUIN, P.. PRODUÇÃO DE ALIMENTOS TRADICIONAIS Contribuindo para o desenvolvimento local/regional e dos pequenos produtores rurais. Revista Brasileira de Gestão e Desenvolvimento Regional, América do Norte, 4, fev. 2008. Disponível em: <http://www.rbgdr.net/revista/index.php/rbgdr/article/view/117/107>. Acesso em: 26 Jan. 2012.

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